Desde a antiguidade o ser humano procura viver em grupos, para que possa ter uma certa medida de segurança e também a oportunidade de se socializar. Isso acontecia nos tempos bíblicos, na idade média e na atualidade. Quem pesquisar verá que as pessoas se organizavam em povoados e cidades e isso - como em qualquer relação - trazia benefícios e problemas a eles. Hoje isso não é diferente...
Nos tempos modernos, quando os italianos vieram para o Brasil, se organizavam em colônias que nada mais eram do que grupos fechados onde eles tinham sua estrutura organizacional própria. Tinham seus líderes, faziam melhorias na área da comunidade, tinham uma relação social entre eles... Mal sabiam eles que estavam sendo pioneiros numa modalidade de moradia que iria tomar conta de boa parte do mundo: o condomínio.
O condomínio nada mais é do que uma colônia moderna. Só fazem parte dele algumas pessoas. Cada qual com suas responsabilidades bem definidas, sejam tesoureiros, condôminos, funcionários, etc. Seu líder é o síndico, a autoridade suprema. O centro social desta colônia é sem dúvidas o salão de festas, onde os condôminos e outras pessoas se socializam. Por horas e horas, principalmente quando se trata de alguma comemoração. Mas afinal de contas as pessoas que vivem confinadas adoram uma festa. Elas não tem mais nada a fazer senão planejar churrascos, festinhas, cervejadas, jogos...
O condomínio é composto por unidades autônomas, que de autônomas não tem nada pois quando o vizinho do 207 quer consertar a válvula hidra ele acaba por prejudicar o abastecimento de água do prédio todo! Quando o pessoal do 102 resolve assistir ao jogo do Inter no salão de festas mesmo quem não é colorado acaba torcendo pro Inter, afinal os gritos são tantos e os comentários contra a familia do Juiz tão agressivos que ninguém se atreveria a manifestar sua preferência pelo Grêmio.
Mas nem tudo é festa. Existe trabalho e responsabilidade no condomínio e o principal responsável pelo bom andamento da vida dentro dos muros é o síndico. Eleito pela maioria dos condôminos presentes a uma assembléia nem sempre se mostra o melhor defensor dos interesses dos condôminos, mas dos seus. Quando digo "seus" digo dele próprio e da turma que o elegeu: o pessoal do salão de festas. Na política tudo é um jogo de interesses. Seja em Brasília ou no nosso condomínio nada é de graça. Tudo tem um preço e esse preço geralmente é algum favor ou comprometimento com alguma causa escusa... Na maioria das vezes! O horário de silêncio, por exemplo, é uma regra a que todos tem de se submeter e quem se sentir prejudicado pode - e deve - recorrer ao síndico. O problema é quando o próprio síndico estiver fazendo barulho durante o horário de silêncio. Reclame e não seja atendido, principalmente se o síndico estiver bêbado.
Mas nada surpreende mais na convivência condominal do que os hábitos de alguns condôminos. Não fazem absolutamente nada o dia todo além de levar o cachorro pra rua, depois pra dentro de casa, depois novamente pra rua, depois pra casa assistir a novela, depois novamente pra rua e depois pra casa ver a outra novela e depois mais uma passadinha na rua e depois, finalmente após um dia estressante, pra casa dormir. Eu penso que o cachorro é simplesmente um álibi para que estas pessoas possam exercer sua real atividade secreta: agentes de segurança do condomínio. Pertencem ao grupo dos F.O.F.O.Q.U.E.I.R.O.S. Que o leitor não me compreenda mal, pois embora pareça um adjetivo da ligua portuguêsa esta é na verdade um acrônimo para Falange Organizada de Formação Onipresente Quanto ao Uso Estipulado das Instituições Regidas pelo Ócio Social. Cuidam quem entra, quem sai, quem veste o quê, que carro tem quem, a que horas entrou com quem ou quem saiu a que horas e com que roupa. Se voltar com uma roupa diferente então, já sabe... É assunto certo. Para terem uma idéia, no meu prédio onde moro a 5 mêses as pessoas pensavam que eu era médico. Um sábado à tarde resolví sentar no pátio para tomar um chima e ler o jornal sossegado mas infelizmente isso foi impossível. Fui abordado por um agente dos F.O.F.O.Q.U.E.I.R.O.S. me questionando sobre quel seria minha especialidade na medicina. Respondí com a verdade, dizendo que se tratava da medicina sentimental...rs.
A vida é assim e a tendência é piorar. Na verdade, observando o passado percebemos que nada muda. É tudo igual. Só o tempo que passa e os processos se modernizam...
Abraço,
Tomi